segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Erosofia


O diálogo platônico conhecido como O Banquete (Συμπόσιον), escrito no século IV a.C., faz parte da terceira tetralogia de Platão e apresenta uma série de discursos sobre a natureza de Eros, o Amor. Durante uma festa na casa de Agatão, encontram-se Aristodemo, Fedro, Pausânias, Ereixímaco, Aristófanes, Alcebíades e, é claro, Sócrates. O tema escolhido pelo simposiarca a ser discursado é o Amor. Após alguns elogios a Eros, é a vez de Sócrates expor o que considera sobre o Amor, e o faz através das palavras da sacerdotisa estrangeira, Diotima de Mantinéia, que lhe ensinou tudo sobre aquele.

O discurso de Sócrates sobre Eros se inicia com a refutação da idéia de divindade atrubuída a este. Se o objeto de desejo é sempre aquilo de que se é carente, só se deseja aquilo que não se tem, ou se deseja que aquilo que se tem permaneça em posse não só agora, mas também no futuro. Ora, o Amor é amor de algo, é amor do belo e deseja o próprio amor. O Amor é da beleza e, ao amá-la, a deseja. Deseja algo que não tem, então, não é belo. O que é bom é também belo, sendo o amor não só não belo, mas também não bom (καλὸς κἀγαθός).

Entretanto, diz a Sócrates a Diotima, o que não é belo não é forçosamente feio, assim como há algo entre a sabedoria e a ignorância, pois aquele que não é sábio não é necessariamente ignorante. O que há entre esses extremos é o opinar certo, pois a opinião certa é um intermediário entre o entendimento e a ignorância. O Amor é algo situado entre os dois extremos; ele não é um grande deus, pois não é feliz nem belo, faculdades inerentes a todos os deuses, que são felizes por possuírem o que é bom e belo. O Amor é, então, algo entre mortal e imortal, é um grande gênio (δαίμων), um intermediário (μεταξύ) com o poder de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens e aos homens o que vem dos deuses. “Como está no meio de ambos, ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo. Um deus com um homem não se mistura, mas é através do daimon que se faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens”.

A Diotima diz ainda a Sócrates que aqueles que filosofam não são os sábios nem os ignorantes, mas os que estão entre os dois extremos. Sendo uma das coisas mais belas que há a Sabedoria e sendo o Amor amor pelo belo, é forçoso ao Amor ser filósofo. Além disso, é comum a todos os homens o amor ao bem e é ter consigo o bem o que eles amam; não apenas o ter, mas sempre ter. É, então, o Amor, amor de ter consigo sempre o bem. Todavia, a mortalidade do homem o impede de ter para si algo para sempre, e é por isso que um parto em beleza - tanto no corpo quanto na alma – é o que deseja a nossa natureza. A ocorrência desse parto no inadequado, ou seja, no feio, é impossível, pois o feio é inadequado a tudo o que é divino e o adequado é o belo. O Amor, então, mais do que ser do belo, é da geração e da parturição no belo.
A geração é o que há de perpétuo e imortal para um mortal. É a imortalidade, junto com o bem, o que se deseja, já que o Amor é o amor de ter sempre consigo o bem. Assim, o Amor é, também, o amor da imortalidade. A natureza mortal deseja ser sempre e ficar imortal e é através da geração que assim se torna, pois deixa um novo ser no lugar do velho, mesmo com a perda de algumas características; é assim que se pode dizer que uma espécie vive e é a mesma. Tudo o que é mortal se conserva sem sempre ser absolutamente o mesmo – pois essa característica diz respeito aos deuses - mas ao deixar no lugar do que parte e envelhece um outro ser novo, tal qual ele mesmo era.

São apresentados, por fim, os graus que antecedem a perfeita contemplação do Amor, a escada erótica da Diotima, que se relaciona à ascensão filosófica rumo ao Belo/Bom em si. Deve-se começar, quando jovem, por dirigir-se aos belos corpos e, em primeiro lugar, se agindo de forma correta o dirigente, deve-se amar um só corpo e gerar belos discursos. Depois, deve-se compreender que a beleza em qualquer corpo é igual a que está em qualquer outro, e que, se deve-se procurar a beleza na forma, o sensato seria considerar a mesma beleza em todos os corpos, e não num só. Dada essa compreensão, deve-se fazer amante de todos os belos corpos e largar o amor violento de um só, após desprezá-lo e considerá-lo mesquinho. Depois disso, deve considerar o bom amante a beleza que está nas almas mais preciosa que a do corpo. Após a visão da beleza na alma, o próximo passo seria contemplar o belo nos ofícios e nas leis. Então, contemplar o belo nas ciências e, por fim, contemplar uma certa ciência única.
“Em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que do nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é Belo”.

Fica a questão:
Por que considerar o amor à filosofia platônico um amor não erótico?
Por que não fazer uma Ἔρωσοφία, em vez da comum Φιλοσοφία?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

back from the edge

well well well...
essa falta de escrita estava me enlouquecendo.
o tempo que não tenho fez com que eu abandonasse as divagações internéticas e me desligasse de blogs, fotolog e afins.

mas as idéias, ops, agora ideias, não param de vir!
me sinto mal de pensar coisas tão interessantes e não pô-las no papel, ou pelo menos nesse papel virtual de lcd.

a filosofia contribiu muito para o fomento de idéias, saco, ideias, que eu venho tendo e a cada dia eu me apaixono por um tema mais fantástico que o outro. se dependesse do exercício de abstração e do apreço por temas metafísicos, lógicos, éticos, whatever, eu já tinha um livro completo de elocubrações filosóficas!

eu sei, calma, calma, eu apenas estou começando a estudar filosofia. mas acho que é esse gás do começo que me move, que me tira do tédio que na história já tinha estacionado. tá, história é legal, mas nem se compara à filosofia. by the way, já decidi: minha próxima (terceira) graduação será física! yay!

enfim, criei este espaço para escrever, mesmo que não haja quem leia, tanto faz, o importante é eu poder extravasar esse doce tormento que é filosofar.

por hoje nada mais.
só uma palhinha da próxima postagem... "erossofia, ou como entender o erotismo platônico"!

deixem-se conduzir!
a todos, uma boa yicagogia!
Ana Nicolino